quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Outra do Drummond

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Mãos Dadas.

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

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Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

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O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente.
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Paciente da Maternidade Odete Valadares, FHEMIG, minutos antes de ser operado
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Pagliacci em Propaganda

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Há aproximadamente 15 anos havia assistido a este comercial. Lembro-me perfeitamente do momento. Apesar de tê-lo visto uma única vez, guardei-o bem na memória e procurei-o por um bom tempo na Internet!
Os autores exploraram maravilhosamente a leitura emotiva da audiência. Na ópera, é tão enfática a augústia do protagonista ao descobrir a traição de sua mulher, que o menino, sensibilizado pela dor, leva-lhe o refrigerante como conforto. Em pleno palco!
Uma ideia maravilhosa, de pesoas com sensibilidade e talento! Tudo isso sem mencionar a fotografia e a interpretação do jovem ator!
Merecedor de muitos méritos, o comercial da Coca-Cola foi uma obra de arte durante os intervalos!
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... e como a ópera:

La commedia è finita!

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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Adélia Prado

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Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.



Inspirado pela Moça dos Três Desenhos!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

"Coletânea Ufanista" ou "Quem puxa aos seus não esvaece"...

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Canção do Exílio
Gonçalves Dias
...
Não permita Deus que eu morra,
sem que eu volte para lá;
sem que desfrute os primores
que eu não encontro por cá,
...

Canto Mineral
Carlos Drummond de Andrade
...
Minas orgulhosa
de tanta riqueza,
endividada
de tanta grandeza
no baú delida.
Cada um de nós, rei
na sua fazenda,
...
Minas, oi Minas,
tua estranha sina
delineada
ao bailar dos sinos,
ao bailar dos hinos
de festins políticos,
Minas mineiral
Minas musical
Minas pastorela
Minas Tiradentes
Minas liberal ...
Minas que te quero
Minas que te perco
e torno a ganhar-te ...




Confidência do Itabirano
Carlos Drummond de Andrade
...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Garoto
Vladimir Maiakoviski

Fui agraciado com o amor sem limites.
Mas, quando garoto,
a gente preocupada trabalhava
eu escapava
para as margens do rio Rion
e vagava sem fazer nada.
...
Sem o peso da camisa,
sem o peso das botas,
de costas ou de barriga no chão,
torrava-me ao sol de Kutaís
até sentir pontadas no coração.
O sol se assombrava:
“Daquele tamaninho
com um tal coração!
Vai partir-lhe a espinha!
Será que cabem
nesse tico de gente
rio,
o coração,
eu
e cem quilômetros de montanhas?”


A seguir, "outro" cataguasense dileto: o cineasta Humberto Mauro! O videoclipe é "A Velha a Fiar" (1964). Nele a música é executada pelo Trio Irakitã.
O filme é considerado o primeiro videoclipe brasileiro!

Link para a página de Cataguases no Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cataguases

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sopros e.. Lady Day

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A voz rouca e incomparável da diva do Jazz entremeando roucos sons de dois saxofones tenores, um barítono (que mostra seus sons mais agudos!!!), um pacífico trombone e um trompete - com sons quase hermetianos!!!!
Para celebrar o aniversário da morte de Billie Holiday.
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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Verbo Beligerante

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Poesia Visual: Rodrigo Ferreira

FALA
(Orides Fontela)

Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.

Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.

Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos
e nem o amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade.)
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O Lutador
(Carlos Drummond de Andrade)
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.

Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue
Entretanto, luto.

Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.

Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja.

Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
outra sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.

O ciclo do dia
ora se consuma
e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.